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Existe uma dimensão individual na vida que para mim é essencial, e acho que chega ao político de outra forma. O que eu quero não são respostas, quero perguntas. Não quero falar do paraíso. Quero falar do mundo que existe. Não quero saber como o mundo é, mas como está, recolher fragmentos do mundo como ele existe.
A pureza e a perfeição são as únicas coisas que me revoltam. A pureza e a perfeição são fascistas. Então meus lmes são pela vida, porque a vida será sempre imperfeita, porque a vida será sempre incompleta. A perfeição é a morte. Acabou. Eu não sou optimista, mas meus lmes são a favor da vida porque aceitam a imperfeição do ser humano e da sociedade. Não quero saber do paraíso. Quero saber o que as pessoas fazem frente à dureza da vida e dos tempos. Às vezes podem cantar um bolero, pode ser isso.
Eduardo Coutinho
São as palavras de Salles e Berg, seus dois colaboradores mais próximos, as que nos aproximam do cinema de Coutinho neste caderno, mediante a transcrição das palestras que deram durante o FICCI (em colaboração com a Universidad del Magdalena) e o Ambulante (em associação com a Cátedra Bergman), e que são apresentadas aqui com leves modificações que permitam facilitar a leitura mas preservando seu caráter coloquial — algo que, intuo, agradaria a Coutinho —. Na primeira, durante um diálogo moderado pela documentarista colombiana Patricia Ruiz Acero, entusiasta organizadora da retrospectiva realizada no FICCI, João Moreira Salles e eu falamos sobre o cinema de Coutinho partindo de três temas centrais: o método, a memória e a loso a do encontro. Na segunda, Jordana Berg faz um memorável relato de sua relação pessoal e profissional com Coutinho e revela o porquê das regras do jogo que se impunham cada vez que eles embarcavam em um novo projeto.
María Campaña Ramia
JORDANA BERG
Jordana Berg (Rio de Janeiro, 1963) se graduou como desenhista visual. Desde 1985 trabalha em televisão e, desde 1990, como editora freelance. Durante vinte anos editou doze fimes de Eduardo Coutinho — desde Santo forte (1999) até Últimas conversas (2015) —, e se transformou assim em sua colaboradora de mais longo fôlego. Editou mais de 85 filmes e trabalhou com prestigiados cineastas como Eduardo Escorel (O tempo e o lugar), Renato Terra e Ricardo Calil (Uma noite em 67), Daniela Broitman (Marcelo Yuka no caminho das setas), Helena Solberg (A alma da gente), Flávia Castro (Diário de uma busca), José Joffily e Pedro Rossi (Caminho de volta), entre outros. Entre 1993 e 1996 viveu em Paris, onde trabalhou como editora na UNESCO e como freelancer em documentários. Entre 2010 e 2011 foi professora na Escola de Cinema Darcy Ribeiro no Rio de Janeiro. Em 2017 trabalha no documentário de Petra Costa sobre o impeachment da presidente Dilma Rousseff. É membro do Rough Cut Service, serviço internacional de consultoria de montagem.
MARÍA CAMPAÑA RAMIA
María Campaña Ramia (Quito, 1977) é programadora de cinema, documentarista, jornalista e tradutora audiovisual. Mestre em Produção de Documentários na Universidade de Estrasburgo, França. Foi diretora artística do Festival Internacional de Cine Documental Encuentros del Otro Cine – EDOC, no Equador, entre 2006 e 2016. Foi diretora de programação do Festival de Cinema La Orquídea (Cuenca, Equador); curadora convidada do Instituto Moreira Salles no Rio de Janeiro e bolsista do Seminário Flaherty, nos EUA. É membro da equipe de programação de EDOC e Ambulante, no México. Em 2012, coeditou o livro El otro cine de Eduardo Coutinho, a primeira publicação em espanhol dedicada integralmente à obra do realizador brasileiro, e organizou uma retrospectiva do seu trabalho no EDOC. Fez os documentários Mi abuelo, mi héroe (2005) e Derivadas (2015). Têm sido colunista, crítica de cinema, cronista de viagens e repórter de publicações do Equador e do Reino Unido. Mora no Rio de Janeiro.
JOÃO MOREIRA SALLES
João Moreira Salles (Rio de Janeiro, 1962) é cineasta, produtor e roteirista, fundador da produtora e distribuidora VideoFilmes e da revista Piauí. É considerado um dos mais importantes documentaristas contemporâneos. Começou sua carreira em 1985 como roteirista de uma série documental para televisão. Entre suas obras estão Notícias de uma guerra particular (1999), sobre o estado de violência urbana no Rio de Janeiro (codirigido por Kátia Lund), Nelson Freire (2003), seu primeiro longa-metragem para cinema sobre o pianista brasileiro reconhecido internacionalmente, e Entreatos (2004), sobre os bastidores da campanha de Luiz Inácio “Lula” da Silva à presidência do Brasil em 2002. Em 2007 estreou o documentário Santiago, que foi aclamado em inúmeros festivais do mundo. Dez anos depois, realiza No intenso agora (2017), filme construído inteiramente com material de arquivo e lançado na Berlinale. Amigo pessoal e colaborador de Eduardo Coutinho, produziu seus filmes a partir de Edifício Master (2002) e finalizou seu filme póstumo, Últimas conversas (2015), após a morte do cineasta brasileiro.
PATRICIA RUIZ ACERO
Patricia Ruiz Acero (Bogotá, 1980) é bailarina com formação em dança tradicional e contemporânea, comunicadora social e produtora audiovisual. Estudou na Pontifícia Universidade Javeriana na Colômbia. É mestre em Cultura e Desenvolvimento e professora do programa de Cinema e Audiovisuais na Universidade do Madalena (Santa Marta). Fez documentários e ficções no Caribe e Colômbia, dentre os quais se destacam Cantadoras de vida, sobre os rituais fúnebres em Chocó, e Yeya espíritu que danza, documentário sobre a bailarina e investigadora Delia Zapata Olivella. Fez três documentários para a Liga de Mujeres Desplazadas de Bolívar e o curta-metragem Mi muñeca. Foi produtora de nove edições do Festival Audiovisual Tornado Cartagena e da Mochila Audiovisual del Caribe. Coordenou durante quatro anos a seção Novos Criadores no Festival Internacional de Cine de Cartagena de Indias – FICCI, e na edição de 2017 organizou a retrospectiva de Eduardo Coutinho. Atualmente produz o documentário Las cuerdas, sobre mulheres boxeadoras em Santa Marta.