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Este caderno reúne duas conversas entre diretores e especialistas do cinema indígena do México e do Brasil. A primeira é uma entrevista com Vincent Carelli por Antonio Zirión. Carelli fala sobre suas primeiras aproximações com os indígenas; descreve sua primeira filmagem em 1986 como uma experiência de cine trance; revela suas influências, os primeiros contatos com o cinéma vérité e com as figuras mundiais do cinema de documentário. A segunda é um diálogo entre Vincent Carelli, Nicolás Echevarría e Antonio Zirión. Um dos temas centrais ao longo dessa conversa foi o contraste entre a obra de Vincent e Nicolás. Ambos cineastas tinham interesses em comum e abordam temas relacionados com o mundo indígena, mas mantêm posturas radicalmente opostas, que poderiam se caracterizar como um olhar a partir do interior e um olhar a partir do exterior.
VINCENT CARELLI
Vincent Carelli (1953) é um ativista, cineasta e documentarista envolvido há mais de 40 anos nas lutas pelos direitos e pelo reconhecimento dos povos indígenas do Brasil. Em 1987, iniciou Vídeo nas Aldeias, um projeto destinado à capacitação e à produção de vídeo colaborativo, que tem servido a projetos políticos e culturais de diversos grupos étnicos. Carelli produziu uma série de 16 filmes que documentam o método e os resultados desse projeto. Entre eles está A arca dos Zo’é (1993), que recebeu o primeiro lugar na 16a edição do Tokyo Video Festival e no Cinéma du Réel em Paris. Sua trilogia, conformada por O espírito da TV (1990), A arca dos Zo’é (1993) e Eu já fui seu irmão (1993), foi transmitida pelo Canal+ na França e em várias emissoras públicas em todo o mundo. Em 1999, durante a 6a Mostra Internacional de Filme Etnográfico, Vincent Carelli recibeu o prêmio UNESCO pelo filme Vídeo nas Aldeias (1989), como recohecimento pelos esforços para promover o respeito à diversidade cultural à paz nas relações interétnicas. Em janeiro de 2009 finalizou Corumbiara, um longa-metragem sobre sua trajetória junto aos indígenas isolados de Gleba Corumbiara, no sul do estado de Rondônia, que foi premiado no Festival de Gramado. Atualmente, Vincent Carelli é secretário executivo da organização Video nas Aldeias, onde além de produzir seus filmes, é formador de cineastas indígenas de seu país.
NICOLÁS ECHEVARRÍA
Nicolás Echevarría (1947) é produtor, diretor e fotógrafo de cinema. Sua carreira se desenvolveu inicialmente no cinema de documentário, que lhe chegou pelo seu interesse em mágica, a religião e os ritos indígenas ligados ao uso de alucinógenos. Realizou a série de TV American Patchwork Project (1983) em colaboração com o antropólogo Alan Lomax para a Universidade de Columbia em Nova York e para a BBC de Londres. Em 1988, realizou, em colaboração com Octavio Paz, Sor Juana Inés de la Cruz o las trampas de la fe, documentário que narra a vida da freira mexicana, poeta e filósofa do século XVII. Cabeza de Vaca (1991), seu primeiro longa-metragem de ficção e pelo qual foi reconhecido internacionalmente, foi escrito em colaboração com Guillermo Sheridan e está baseado em Naufragios, livro de crônicas escrito por Álvar Núñez Cabeza de Vaca. Foi bolsista da Fundação Guggenheim e da Ford Rockefeller Foundation, e também do Sistema Nacional de Criadores de Arte (México). Em sua filmografia, encontram-se diversas séries de TV como La Cristiada (1997), Maximiliano y Carlota (2004) e Memorial del 68 (2008); e os documentários Judea, Semana Santa entre los coras (1974); Híkuri Tame (1977), María Sabina, mujer espíritu (1979); Teshuinada (1980), Poetas campesinos (1980), Niño Fidencio, el taumaturgo de Espinazo (1981) e Eco de la montaña (2014).
ANTONIO ZIRIÓN
Antonio Zirión (1976) é professor e pesquisador no Departamento de Antropologia da Universidade Autónoma Metropolitana (UAM-I), onde atualmente desempenha o cargo de chefe do departamento. Membro do Sistema Nacional de Investigadores (SNI – Sistema Nacional de Pesquisadores). Doutor em Ciências Antropológicas (UAM-I), Mestre em Antropologia Visual (Universidade de Manchester) e Etnólogo pela Escuela Nacional de Antropología e Historia (ENAH – Escuela Nacional de Antropología e Historia). Suas principais linhas de pesquisa são: antropologia visual e cultura urbana. Recebeu o prêmio da Academia Mexicana de Ciências de melhor tese de doutorado em Ciências Sociais e Humanidades em 2010. Autor do livro La construcción del habitar (UAM/Juan Pablos Editor, 2013). Também é fotógrafo, documentarista e programador de cinema. Suas imagens foram publicadas em revistas especializadas como Cuartoscuro, La Tempestad e Tragaluz, e também em dois livros individuais: Mano de obra (UAM, 2014) e Traspasos (Artes de México, 2015). Entre sua produção audiovisual se destacam os documentários: Voces de la Guerrero (2004), ganhador do prêmio José Rovirosa outorgado pela UNAM, e Fuera de foco (2013), que obteve vários reconhecimentos internacionais. É fundador dos coletivos Homovidens e Etnoscopio, dedicados à produção audiovisual e à gestão cultural, respectivamente. Foi por vários anos coordenador geral das Jornadas de Antropologia Visual, curador da mostra Cine entre Culturas no Festival DocsDF, e programador da Gira de Documentales Ambulante (Ambulante Festival de documentário).