Prêmio Fènix á contribuição para a cultura cinematográfica

Reconocimientos especiales

 Oferecido por Conselho Consultor de Cinema23

FILMOTECA ESPANHOLA
— por Guadalupe Ferrer

Fundada em 1953, a Filmoteca Espanhola é um dos arquivos fílmicos mais importantes do mundo e um marco entre os países de fala hispana. Pouco depois de sua fundação, em 1956, se incorporou como membro da FIAF (Federação Internacional de Arquivos Fílmicos).

As conquistas da Filmoteca no que diz respeito ao resgate, recuperação, preservação, restauração, documentação e catalogação do patrimônio cinematográfico —incluindo qualquer outro elemento relacionado à atividade cinematográfica—, especialmente aos relacionados com produtos do cinema espanhol, favoreceram, depois de um longo esforço, a criação do Centro de Conservación y Restauración de la Ciudad de la Imagen (Centro de Conservação e Restauração da Cidade da Imagem), uma grande conquista, equipada com tudo aquilo que um arquivo fílmico precisa para hoje cumprir com suas tarefas em condições ótimas. As instalações e capacidades são de primeira categoria.

As atividades realizadas pela Filmoteca Espanhola com o intuito de dar acesso e difusão ao patrimônio cinematográfico são constantes e gratificantes. Ver em sua sala de exibição —desde 1989 o belo cinema Doré— os frutos deste trabalho de preservação proporciona ao espectador mais do que o consumo de um filme, proporciona uma experiência de projeção.

A realização e o fomento de investigações e estudos, com uma atenção especial à filmografia do cinema espanhol, foram fundamentais para a construção da memória da Espanha, não só no campo da cinematografia, mas também no que ela representa para a cultura de um país.

A colaboração entre filmotecas e as contribuições para a formação de profissionais em campos tão bem desenvolvidos pela Filmoteca Espanhola foram essenciais para seus pares latino-americanos.

A Filmoteca da Universidade Nacional Autónoma do México (UNAM) é um grande exemplo de tal colaboração. As trocas entre ambas filmotecas tem sido,
há quase três décadas, constantes e frutíferas. Ambos arquivos colaboraram amplamente na recuperação da obra de Luis Buñuel, um diretor que por muitas razões podemos identificar como hispano-mexicano. A Filmoteca da UNAM obteve da Filmoteca Espanhola novas cópias dos negativos dos filmes que o cineasta realizou no México durante quase 20 anos, bem como outros títulos em 35 milímetros do célebre cineasta. As cópias das realizações mexicanas foram feitas pela Filmoteca Espanhola usando os negativos resguardados pela Filmoteca da UNAM.

Outro projeto no qual ambos arquivos colaboraram de forma frutífera foi a repatriação à Espanha do filme Viva Madrid, que es mi pueblo. Realizado durante a era muda do cinema espanhol, o filme tinha até então sido dado como perdido. Foi incluído pela Filmoteca Espanhola em sua lista de “mais procurados”, um mecanismo que consiste em uma espécie de “mensagem engarrafada”, lançadas por arquivos de cinema ao mar de remotas possibilidades. O filme foi encontrado na Filmoteca da UNAM, que guardava um negativo.

Entre vários outro exemplos relevantes, uma das conquistas da Filmoteca Espanhola foi a conformação do fundo denominado No-Do e a criação da Colección sobre la Guerra Civil Española (Coleção sobre a Guerra Civil Espanhola). Trata-se de dois trabalhos de grande valor no que se refere ao resgate, à preservação e à difusão do patrimônio fílmico espanhol, que merecem grande reconhecimento.

O No-Do (Noticieros y Documentales – Noticiários e Documentais) é um fundo de 6 mil rolos de filmes provenientes de 6500 elementos audiovisuais de noticiários e documentais oficiais realizados entre 1943 e 1975, que por lei eram exibidos ao princípio de qualquer sessão de cinema no território espanhol. Além disso —e apesar de— seu uso como elemento de propaganda por parte da ditadura franquista, o No-Do foi também uma grande escola para documentaristas e técnicos, e atualmente é uma importante fonte de investigação histórica sobre a vida política, social e cultural do período, não só na Espanha, mas no mundo; tais acontecimentos podem ser revisitados hoje sob a luz da visão fascista oficial que sobreviveu 30 anos após a Segunda Guerra Mundial.

Quanto à Coleção sobre a Guerra Civil Espanhola —a insurreição militar contra o governo democrático da Unidade Popular que ocorreu em 1936— seu resgate (a coleção era integrada por mais de mil filmes documentais e de ficção sobre o conflito), ganha maior relevância pelo seguinte fato: em 1945, poucos anos depois do fim da conflagração, ocorreu em Madrid o incêndio dos Laboratórios Cinematiraje Riera. Não somente muitos filmes e negativos dos noticiários No-Do foram perdidos, mas também muitos materiais originais e negativos de filmes realizados por ambos lados durante a guerra, que tinham sido deixados em tal laboratório pelo Departamento Nacional de Cinematografia.

Em 2010, durante o festival Il Cinema Ritrovato organizado pela Cinemateca de Bolonha, a Filmoteca Espanhola apresentou La guerra filmada 1936-1939, uma coleção de 37 documentais em formato DVD sobre o conflito, obtendo um grande e importante reconhecimento pela seleção e trabalho de edição em formato digital.

O notável trabalho da Filmoteca Espanhola, seu generoso apoio, a difusão de seu conhecimentos sobre arquivos fílmicos latino-americanos tanto nos tempos de bonança como de austeridade; seu exemplo no afinco e trabalho e a riqueza do material que resgata e preserva para seu país e que compartilha com o mundo; nos proporciona uma enorme gratidão com essa nobre instituição e com José María Prado, seu diretor há 26 anos.