SOMOS FEITOS PARA O SONHO, NÃO TEMOS ÓRGÃOS ADEQUADOS PARA A VIDA (NOTAS SOBRE A ATUAÇÃO NO CINEMA PARA JOVENS POETAS)

Gabino Rodríguez

016 Memorias Gabino Portugués web

Este texto é, antes de tudo, uma homenagem aos atores. Surge da necessidade de colocar em ordem certas ideias que intuí, li ou escutei ao longo de vários anos de trabalho como ator. Não há, nestas páginas, a intenção de produzir uma teoria sobre a atuação, nada mais distante de meus desejos e possibilidades. O fim é mais modesto: organizar o pensado e compartilhá-lo, pensar a atuação e suas implicações.

Em poucos contextos senti a confusão que impera nas escolas de atuação: uma mis- tura insalubre de esoterismo, vaidade, submissão e mal-entendidos. Em poucas carreiras os alunos chegam com ideias tão vagas sobre o que se vai aprender e o que achamos que queremos fazer.

Tento outra vez: teria gostado de ler este texto quando comecei a atuar. Então, estas palavras estão dirigidas a Gabino Rodríguez quando tinha 17 anos, ali pelo ano 2000. Foi naquele tempo que decidi que ia me dedicar à atuação. Como era de se esperar, não sabia muito bem o que fazia, nem tinha claro o que significava atuar; nem sequer sabia muito bem o que fazia um ator, além de atuar, claro. Mas havia uma intuição, um chamado irresistível a ser contemplado, vontades irrefreáveis de expressar algo que não sabia expressar na vida, mas que, intuía, podia fazê-lo em frente a uma câmera, isto é, em frente aos olhos de alguém mais. Estas ideias, imagino, me ajudariam a enfrentar com um pouco mais de clareza os anos por vir.


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